O país que não aprende – Artigo

Um “prefácio” do Ilumina: O artigo abaixo foi enviado ao Globo no dia 8 de março. Não foi publicado e nem será, pois, o Ilumina recebeu essa negativa do editor. Por isso, só agora, estamos publicando na página.

Toda imprensa no mundo tem posições definidas sobre políticas. O Brasil não é diferente. O texto pode não ter espaço por estar numa imensa fila, mas também pode não ser publicado por questionar algo que a linha editorial do Globo defende abertamente. Algum problema? Nenhum! É melhor deixar as posições claramente expostas do que fingir uma isenção que, na verdade, não é a do Jornal.

Se, por acaso, o texto foi rejeitado pelo segundo motivo, é preciso dizer que essa polaridade entre privatização e papel do estado pode estar sendo mal compreendida. Esse é o ponto central do artigo.


 

O país que não aprende

Roberto Pereira D’Araujo – Diretor do Instituto de Desenvolvimento Estratégico do Setor Energético

 – Quem não se lembra da época em que um telefone era um artigo de luxo? Chegamos ao ponto de declará-lo no imposto de renda! Isso acabou! Tem mais é que privatizar tudo!

Esse é o discurso dos crédulos da fé que soluciona todos os males. Está presente em quase todas os preleções e artigos sobre o assunto. Uma estação de telefonia no período estatal, sob a então vigente tecnologia eletromecânica, ocupava um prédio inteiro, mas, para essa grupo, isso é detalhe! Hoje, um terminal de computador faz esse serviço, mas, para pregar o “evangelho”, é bom não dar bola para diferenças entre uma máquina de escrever e um notebook, não é mesmo?

Não estamos defendendo as estatais na situação em que se encontram! Mas, antes de vender, precisamos alertar que elas foram lentamente trucidadas pelo desmonte das equipes e pela influência política que já foi chamada de, desculpem o termo, uma “suruba”.

Condenar empresas por práticas do controlador é como culpar a faca pelo assassinato! A simplória ilusão brasileira é a de que, ao invés de moralizar o estado, basta “cortar seus os braços” para diminuir o estrago. Ora, se o problema é o cérebro do “polvo” não adianta cortar seus tentáculos, pois há milhares de outros.

E a amnésia? Na década de 90 o Brasil privatizou mais de 40 empresas! Verdadeiras liquidações foram feitas para resolver problemas de endividamento. Vinte anos depois, estamos na posição constrangedora ao vender empresas com o pires na mão. Não somos contra a privatização. Estamos perguntando: Nós sabemos privatizar? Isso libera o estado? Nossas agências funcionam?

O espantoso é que a receita volta mesmo depois de assistirmos que grande parte do colapso financeiro se deveu a desonerações, isenções, incentivos, empréstimos subsidiados e até parcerias de estatais com o setor privado com resultados pífios. Será que não deu para perceber que esse “pujante” capital independente do estado é raridade no Brasil? Não aprendemos nada?

Ao contrário do que parece, não somos o último país com estatais. No setor elétrico, a França tem a Eletricite De France, o Canadá tem estatais em Quebec e British Columbia. Os Estados Unidos têm mais de 2.000 empresas municipais de distribuição, além das Tennessee Valley Authority e Bonneville Power Administration.  Grandes cidades exploram o transporte através das prefeituras. No setor de água e saneamento, só 11% das empresas americanas são privadas. Na França e na Itália, a opção foi reformar e blindar com mandatos e contratos de gestão ao invés de vende-las.

Nossos contratos de concessão acabam exigindo recursos do contribuinte, vide metrô, ônibus, trens urbanos, distribuidoras e estradas, muitas com ações indenizatórias contra o estado. Ou aprendemos a privatizar ou na próxima crise não teremos mais o que vender.

Se temos um estado inconfiável ao ponto de não poder ter uma empresa, mesmo necessária, então, o que está em risco é o país.

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