Caixa e BB socorrem Eletrobras com R$ 6,5 bi – Valor

Comentário: Quem cogita que o rombo financeiro do setor elétrico vai estacionar nos atuais R$ 50 bilhões está completamente enganado. Por enquanto a fortuna se refere apenas às dividas na distribuição de energia. Agora começa a surgir o outro lado do prejuízo, o da geração. A notícia abaixo mostra a consequência da intervenção voluntarista feita nas usinas e linhas da Eletrobras para conseguir MWh abaixo de R$ 10.

A empresa está num nível de desequilíbrio econômico jamais imaginado pelos que conhecem a sua história. A MP 579 conseguiu a façanha de praticamente falir a maior geradora da América Latina em troca de nenhuma redução da tarifa. Muito ao contrário, aumentos tarifários de mais de 20% estão adiados para 2015 a custa de juros, muita contabilidade “criativa” e, talvez, alguma ilegalidade.

Será que alguém achava que a queda de 70% no valor da empresa não teria consequências reais? Adivinhem que bancos aceitaram financiar? Adivinhem quem deu as garantias que a Eletrobras não consegue mais dar? 


Por Claudia Facchini, Ligia Tuon e Leandra Peres | De São Paulo e Brasília

A Eletrobras informou ontem à noite, por meio de um comunicado ao mercado, que fechou captação de empréstimo de R$ 6,5 bilhões junto ao Banco do Brasil e à Caixa Econômica Federal. A operação terá garantia da União e os recursos serão destinados, segundo a estatal, à conclusão de metas de seu plano diretor de negócios.

A Caixa Econômica Federal entrará com R$ 2,5 bilhões e o Banco do Brasil, com outros R$ 4 bilhões. Os recursos serão desembolsados em até três parcelas até 2015. O montante será pago em oito anos, com dois anos de carência, ao custo anual de 119,5% do CDI e taxa de estruturação de 0,75%. O empréstimo não está relacionado ao pacote de ajuda às distribuidoras de energia, também no valor de R$ 6,5 bilhões.

Segundo uma fonte ouvida pelo Valor, bancos privados vinham negociando há cerca de um mês a concessão de empréstimo para a Eletrobras, mas desistiram da operação devido à falta de garantias. “O desenho final de garantias não satisfez”, disse um executivo de uma das instituições que participaram das conversas.

Os principais bancos privados se sentaram à “mesa” de negociação, mas o governo federal acabou não aceitando as condições impostas pelos bancos. A missão de socorrer a estatal ficou, mais uma vez, para os bancos estatais.

De acordo com uma fonte que esteve envolvida nas negociações, a União teria que injetar capital para que a Eletrobras pudesse bancar o extenso programa de investimento de suas subsidiárias, mas isso não poderia ser feito nesse momento devido às restrições fiscais.

A Eletrobras informou que os recursos captados serão aplicados no cumprimento do Plano Diretor de Negócios e Gestão 2014-2018, aprovado pelo Conselho de Administração em 27 de março de 2014, cujo orçamento já foi aprovado para as empresas do grupo Eletrobras.

“A captação de recursos em referência decorreu de processo de ‘bookbuilding’, para o qual foram convidadas diversas instituições financeiras, sob coordenação do Banco do Brasil, autorizado como banco mandatário da operação”, informou a estatal em comunicado.

O empréstimo de R$ 6,5 bilhões concedido pelo Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal à Eletrobras não é a primeira operação com garantias da União feita para que a estatal se recupere da perda de receitas com a adesão à lei que renovou antecipadamente as concessões de energia em 2012.

No ano passado, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) já havia emprestado R$ 2,5 bilhões à Eletrobras, também com aval do Tesouro Nacional, e a operação foi criticada por envolver estatais nas duas pontas. Para evitar novas críticas de contabilidade criativa, a empresa abriu a tomada de recursos a todo o setor privado. Desde o ano passado, a Eletrobras vinha negociando com instituições financeiras, mas só conseguiu ter oferta firme de bancos públicos.

A garantia da União foi a maneira encontrada, mais uma vez, para reduzir o custo da operação. A maior parte dos recursos vai para o financiamento de investimentos de leilões de concessões que a estatal já disputou e venceu. Outra parcela será usada como capital de giro para as distribuidoras de energia que foram incorporadas pela Eletrobras.

Segundo estimativas da Eletrobras divulgadas ao mercado, a receita foi reduzida em R$ 6,9 bilhões em 2012, quando a estatal aderiu à renovação antecipada das concessões de suas usinas. Em 2013, a receita da empresa encolheu R$ 6,2 bilhões por causa da mesma operação.

 

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