Geradoras triplicam ganhos com venda de energia no mercado de curto prazo – O GLOBO

Comentário: A situação descrita na reportagem foi e sempre será totalmente previsível. Esse é o resultado do modelo adotado. Não adianta reclamar. Muito mais do que pertencerem a partidos da oposição, as empresas citadas sabem fazer contas e reconheceram o óbvio: o sistema está em desequilíbrio estrutural e, sob o modelo adotado, sabiam que o MWh iria valer como uma dose de Romanée Conti.

Os preços não estão altos apenas pela falta de chuva, mas principalmente pela gestão adotada nos reservatórios nos últimos anos. Temos insistido na tese de que as garantias físicas das usinas estão todas exageradas ou otimistas. Ao contrário do que vive repetindo a chefe do governo, falta pessimismo no Brasil.


 

POR BRUNO ROSA / RAMONA ORDOÑEZ

RIO – As geradoras de energia Cesp, de São Paulo, Cemig, de Minas Gerais, e Copel, do Paraná, ganharam juntas R$ 1,6 bilhão no segundo trimestre deste ano com a venda de energia no mercado livre, cujos preços estão altos devido à falta de chuvas. O número é quase 200% maior em relação ao mesmo período de 2013, quando as receitas somaram R$ 548 milhões. Porém, os ganhos não devem se repetir nos últimos trimestres deste ano, dizem especialistas, que projetam piora nos balanços das companhias. Para eles, a redução dos ganhos vai ser provocada pela queda na geração hidrelétrica, com menor volume de água nos reservatórios das usinas, uma vez que o período seco vai até novembro.

Essas três empresas, que ficam em estados governados por partido de oposição, ganharam com a venda de energia no mercado livre, por não terem aderido à antecipação da renovação dos contratos de concessão com base na MP 579, de 2012, que provocou uma redução média de 20% nas contas de luz no ano passado.

RESULTADO DEVE PIORAR

Com isso, ficaram com parte de sua energia disponível para negociar livremente no mercado. Do lado oposto, companhias como Light, distribuidora do Rio, Tractebel, uma das maiores geradoras de energia privada do país, e o grupo Eletrobras registram perdas no segundo trimestre deste ano, por terem sido obrigadas a comprar energia no mercado para cumprir seus contratos.

— Os resultados das empresas vão piorar nos próximos trimestres, pois não haverá chuvas. Cesp, Copel e Cemig alocaram energia no início deste ano e, como estratégia, venderam no segundo trimestre para aproveitar o início do período seco, quando os preços sobem. Mas agora não vão ter mais tanta energia para vender — disse Lucas Marins, analista da corretora Ativa.

O economista Marcel Caparoz, da RC Consultores, também vê piora nos balanços, apesar de o resultado operacional continuar bom, já que os preços da energia vão se manter altos no mercado.

Segundo a Cemig, a receita com a venda de energia no mercado à vista somou R$ 940,3 milhões no segundo trimestre, uma alta de 259% em relação ao mesmo período de 2013. A companhia informou que o preço da energia subiu de R$ 250,58 por megawatt/hora (MWh) para R$ 682,20/MWh desde o ano passado. Assim, o lucro foi 20% maior: R$ 740,8 milhões.

Caso semelhante ocorreu com a Cesp, cujas receitas com a energia no mercado livre subiram 77,5%, para R$ 317,6 milhões. A empresa paulista viu a importância do segmento “curto prazo” em sua receita subir de 17% para 34,3%. Na Copel, a alta com a receita da venda de energia foi de 256%, para R$ 382 milhões. Só não aumentou o lucro líquido, segundo Marins, pela Copel ter segurado parte da alta das tarifas para o consumidor.

— A perspectiva é de perdas, já que a hidrologia vai piorar — afirmou Nivalde de Castro, coordenador do Grupo de Estudos do Setor Elétrico da UFRJ.

Para Caparoz, da RC, a demanda terá que ser atendida fortemente pela geração térmica, mantendo elevados os preços da energia no mercado livre.

Cristopher Vlavianos, presidente da comercializadora Comerc Energia, lembrou que essas empresas terão ainda que comprar no mercado à vista parte da energia não gerada pelas hidrelétricas.

— Quem não aderiu à renovação dos contratos de geração, independentemente de ganhar menos, está numa situação bem melhor de quem aderiu.

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