O óbvio mais uma vez – O GLOBO – 06/04/14

O Ilumina apresenta uma das mais baratas “usinas” que existem. O artigo tem quase 1 ano, mas o Brasil ignora.

Comentário: Um singelo exemplo de medidas de eficiência efetivas que podem ser tomadas a curto e médio prazo:

  • Quantas lâmpadas dicroicas (50W) é possível ver nos diversos shoppings espalhados pelo Brasil? O ILUMINA convida aos leitores notar esse detalhe na próxima visita a um desses lugares.
  • Uma dicroica “desperdiça” 44 W, pois pode ser substituída por uma LED de 6W com vantagens.
  • Ora, faça as contas. Supondo 10 horas de uso por dia, são 440 Wh/dia ou cerca de 150 kWh/ano para apenas uma lâmpada, que, vista desse modo pode ser encarada como uma “micro usina” de 44 W.
  • Com todas as dificuldades que o Brasil cria para adquirir uma LED (impostos), já é possível substituir a dicroica por uma LED gastando R$ 50 pelos 44W economizados, ou seja R$1,13/W ou R$ 1.130/kW.
  • Uma usina hidroelétrica de típicos US$ 2.000/kW custa cerca de 5 vezes mais e leva anos para começar a funcionar. A simples troca é uma “usina” instantânea 5 vezes mais barata do que uma hidroelétrica.
  • Nessa indiscutível vantagem, não está considerada a possível diminuição de impostos, o fato de lâmpadas LED não produzirem calor e nem o principal argumento: O “investidor” nesse caso é o consumidor!!

Agora, vejam: O gráfico abaixo mostra a evolução da carga total do sistema interligado em GWh. As setas azuis são recorrentes aumentos de consumo que ocorreram nos meses de março.

O consumo de energia elétrica tem subido a uma taxa aproximada de 3% a cada ano. É possível notar dois “alívios” de carga em 2001 e 2009. Ninguém pode discordar que políticas de incentivo ao uso consciente e aumento de eficiência sejam urgentes nesse momento. Queremos apenas lembrar que, com as tarifas praticadas no Brasil, muito pouca gente desperdiça energia sem ficar muito preocupado. Portanto, é preciso não entender a reportagem abaixo como uma identificação de culpa dos consumidores! O ILUMINA entende que a carga brasileira está se comportando  de forma previsível.

 


Bruno Villas Bôas

Ramona Ordoñez

RIO – Vivian Lourenço, de 29 anos, tem lembranças remotas do período de racionamento de energia elétrica, em 2001: banho fora do horário de pico de consumo, ventiladores desligados, roupa suja acumulada para usar menos a máquina de lavar… Passados 13 anos, muitos desses hábitos ficaram para trás. E foi assim com a maioria dos brasileiros. O consumo de energia residencial por habitante supera em 10% o do período pré-racionamento. No momento em que o país se aproxima do período de seca com níveis baixos nos reservatórios das hidrelétricas nas regiões Sul, Sudeste e Nordeste – colocando em risco o abastecimento – especialistas cobram campanhas de incentivo à redução de consumo, abandonadas pelo governo desde o o racionamento de 2001.

Na casa de Vivian, no Recreio, o filho Bernardo, de 8 anos, mantém eletrônicos ligados simultaneamente: televisão e computador. Uma prática comum em outros lares. A mãe de Vivian é costureira e usa com frequência o ferro de passar, aparelho de elevado consumo elétrico. Ela reconhece que não costuma olhar o selo de eficiência energética dos eletrodomésticos, até porque considera difícil compreender o significado deles.

– Na época do racionamento, tinha 16 anos. Minha mãe ficava no pé da gente, pedindo para gastar menos, tomar cuidado com o horário de pico. Ela preferia deixar a porta de casa aberta para arejar, em vez de ligar o ventilador. Mas isso passou. E nunca mais ouvimos falar de economizar energia.

Segundo levantamento do professor Roberto Schaeffer, da Coppe/URFJ, o consumo residencial de energia elétrica por habitante está em 604 kWh por ano. São 10% a mais do que no período anterior ao racionamento, de 550 kWh, em 2000. No ano seguinte, o brasileiro passou a consumir 483 kWh em casa. Os valores representam uma média. Para consumir os 600 kWh de um ano inteiro basta deixar o ar-condicionado ligado 24 horas por 25 dias seguidos. Procurada, a Empresa de Pesquisa Energética (EPE) informou que não tem dados de consumo residencial por habitante.

– Em média, cada brasileiro consome hoje, em sua residência, mais do que consumia no passado. Isso é um fato. Houve um barateamento relativo dos bens duráveis, enriquecimento da população, tudo isso implica maior posse de eletrodomésticos – diz Schaeffer.

Além da pouca publicidade sobre o uso eficiente de eletricidade, diferentes fatores explicam a alta do consumo. Para Luiz Pinguelli Rosa, diretor da Coppe/UFRJ, há mais equipamentos eletrônicos; barateamento de eletrodomésticos; alta da renda da população e da classe média; e mais residências com eletricidade (foram 14,9 milhões de pessoas pelo programa Luz para Todos desde 2003).

Pinguelli defende uma campanha para mobilizar a sociedade a reduzir de 5% a 10% a média de consumo de energia por causa do atual nível dos reservatórios. Sugere a redução voluntária, cujo termo em voga é “racionalização”. Seria, portanto, diferente das multas e sanções do racionamento.

– Isso é necessário agora para que a situação não fique mais grave lá na frente – disse Pinguelli, que enviou carta ao ministro de Minas e Energia, Edson Lobão, recomendando a campanha. – O que sugiro é conscientização, e não imposição repressiva, como foi em 2001, o que é algo muito ruim. É, por exemplo, desligar o ar-condicionado ao sair da do quarto ou da sala de casa.

O diretor da comercializadora Enecel Energia, Raimundo Batista, diz que a situação do sistema elétrico é crítica. Em março de 2001, às vésperas do racionamento, o nível médio dos reservatórios do Sudeste era de 34,53%, só um pouco abaixo do de março deste ano: 36,26%. Em 2012, esse número era de 78,52%. Como o período de seca começa em maio, a situação é preocupante.

– Para os consumidores residenciais e comerciais é preciso uma campanha agressiva, com redução de tarifa de 30% a 40% para quem poupa, além de prêmios – disse Batista, acrescentando que com pequenas economias de energia é possível reduzir o consumo em 20%, como não deixar a luz acesa e retirar aparelhos da tomada.

Especialista no setor elétrico da Lopes Filho & Associados, Alexandre Montes lembra que o setor residencial foi o que mais contribuiu para o racionamento de 2001. No segundo semestre daquele ano, o consumo caiu 39,3% nas residências. Quem consumia mais de 100 kWh/mês precisou reduzir este patamar em 20%, sob risco de ter o fornecimento cortado por três dias – o que, na prática, não ocorreu. Quem consumia menos de 100 kWh por mês ficou isento da redução obrigatória, mas, se mesmo assim cortasse o consumo nessa proporção, tinha incentivos: bônus de R$ 2 para cada R$ 1 economizado na conta de luz. Quando se compara o nível atual de consumo com o de 2002, após o racionamento, o aumento é de 47%. Para Montes, é “extremamente alta” a probabilidade de o governo precisar de uma campanha de redução de consumo:

– O peso do racionamento cairia sobre o setor residencial – diz. – Minha preocupação é que o governo deixe isso para depois das eleições de outubro, o que poderá ser tarde demais.

Além de poupar os reservatórios das hidrelétricas, analistas afirmam que uma campanha de eficiência reduziria gastos com a dispendiosa energia térmica. Nas contas da Associação Brasileira de Comercializadores de Energia (Abraceel), a redução de 5% no consumo permitiria uma economia de R$ 1,8 bilhão ao mês de consumidores e contribuintes. Essa economia viria pelo menor aumento de tarifas no futuro e menor uso da Conta de Desenvolvimento Energético (CDE).

– Parte do que está acontecendo poderia ter sido evitado se o governo tivesse feito campanhas em 2012, quando reduziu em 20% o preço da energia – diz Reginaldo Medeiros, presidente da Abraceel.

O governo evita ao máximo falar mesmo em “consumo racional”. No fim de março, o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, disse em entrevista ao jornal americano “Wall Street Journal” que o governo pode lançar uma campanha de redução do consumo de eletricidade. Pouco depois, o Ministério divulgou nota informando que Lobão teria sido mal interpretado: ele comentava sobre evitar o desperdício de energia em qualquer momento, sem “referir-se especificamente a qualquer evento”.

O gerente de regulação da consultoria Safira, Fábio Cuberos, acredita que o governo teme uma confusão entre “racionalização” e “racionamento”. O primeiro não obriga as pessoas a reduzirem consumo, o segundo, sim. Ele lembra que o tema da racionalização de energia foi uma das armas do PT nas eleições presidenciais de 2002, que resultou na vitória do então candidato Luiz Inácio Lula da Silva:

– A campanha daquele ano bateu bastante nessa tecla. No governo, por isso, é palavra racionamento e racionalização parecem proibidas.

Procurado sobre se há alguma campanha em gestação para uso mais consciente de energética, o MME respondeu categoricamente: “não”.

Se os brasileiros deixaram de praticar hábitos de menor consumo de energia nos últimos anos, algumas mudanças permaneceram. É o caso das lâmpadas fluorescentes, mais econômicas. Segundo a Eletrobras, 18% das lâmpadas residenciais no país eram fluorescentes e 82% incandescentes em 1998. Em 2005, após o racionamento, cerca de 50% delas eram fluorescentes. Esse número teria chegado agora a 90% em cidades do Sudeste.

Denise Borges da Cunha, que faz bolos para festas de aniversário, não esqueceu a importância de economizar energia: usa a batedeira elétrica para bater a massa de seis a oito bolos em um só dia. Ela passou os ensinamentos aprendidos no racionamento para suas filhas, Larissa e Patricia.

Para Denise, além de diminuir os gastos com as contas de luz, de R$ 300 por mês, o uso racional garante o fornecimento.

– A redução do consumo com um racionamento seria horrível. Sabemos que é importante usar com racionalidade tanto a eletricidade como a água, senão um dia podem faltar – disse.

Além disso, embora muitos brasileiros não procurem necessariamente eletrodomésticos com selo de eficiência de consumo de energia, a chance de levar um produto do tipo para casa é maior. Segundo a Eletrobras, existem hoje 36 categorias de produtos com 3.748 modelos, com o selo Procel. Em 2001, eram apenas 12 categorias e 312 modelos.

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