Para concluir Angra 3, governo terá de desembolsar mais R$ 17 bi – Estado de São Paulo

Análise do Ilumina: Tomando como base uma experiência própria de orçamento de placas fotovoltaicas (que, no Brasil, ainda estão muito caras), uma área de 21 m2 geraria 360 kWh/mês. Essa energia custa a preços de maio de 2017, R$ 280 pago às distribuidoras. O problema é que esse sistema ainda custa R$ 38.000 e, por conta de uma regulação favorável às distribuidoras, o consumidor é obrigado a pagar 100 kWh da rede, mesmo que não consuma!

Mas, apenas para ficarmos cada vez mais pasmos, podemos calcular quanto os R$ 17 bilhões poderiam gerar de energia com placas solares.

Façam as contas! Mesmo que o rendimento dos painéis sejam a metade do exposto, R$ 17 bilhões gerariam 900 TWh, 60% acima do que consumimos hoje.

Claro que não se está propondo esse direcionamento de tantos recursos num país tão carente de tudo. A conta serve para mostrar que a tecnologia mutante, perante uma obra que dura 30 anos, está colocando um dilema para os brasileiros.

Para os descrentes que argumentam que à noite as placas não geram, lembramos que temos reservatórios e, a água economizada durante o dia pode gerar à noite.

Infelizmente o Brasil está desmontando a visão sistêmica que tinha do setor, favorecendo a visão individualista do “mercado”.


 

André Borges, O Estado de S.Paulo

Trinta e três anos depois de ter as obras iniciadas, a usina nuclear de Angra 3, na praia de Itaorna, em Angra dos Reis (RJ), se tornou um problema bilionário para o governo. Entre idas e vindas, a construção já consumiu R$ 7 bilhões, e é necessário tomar uma decisão: concluir o projeto, que está parado, ou abandoná-lo de vez. Seja qual for a escolha, porém, a certeza que existe é que será necessário desembolsar bem mais do que já foi gasto até agora.

Os números que estão em análise na Secretaria de Energia Elétrica do Ministério de Minas e Energia, conforme apurou o Estado, apontam que seria necessário injetar mais R$ 17 bilhões para concluir Angra 3, usina que está com 58% de seu projeto executado. Desistir dela, porém, pouco aliviaria as contas. Os cálculos sinalizam que seria preciso desembolsar R$ 12 bilhões para “descontinuar” Angra 3, entre a quitação de seus empréstimos bilionários, desmonte de estrutura, destinação de máquinas e uma infinidade de dívidas. Neste momento, portanto, a decisão do governo é buscar formas de reduzir esse custo e concluir a usina.

Projeto do período militar, Angra 3 começou a ser erguida em 1984. Suas obras prosseguiram até 1986, quando foram paralisadas por conta de dificuldades políticas e econômicas, além da ocorrência do maior desastre nuclear do mundo, a explosão do reator da usina de Chernobyl, na Ucrânia. O projeto brasileiro ficou na gaveta por 25 anos, até ser retomado em 2009 como um dos destaques do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Naquele ano, o custo estimado para o término do projeto era de R$ 8,3 bilhões. O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva prometia colocar a usina para funcionar em maio de 2014.

Agora, com os R$ 17 bilhões estimados para sua conclusão, se chegaria a um gasto total de R$ 24 bilhões para colocar em operação uma usina com capacidade de 1.405 megawatts (MW). Para se ter uma ideia do que isso significa, a hidrelétrica de Teles Pires, na divisa entre Mato Grosso e Pará, que tem potência de 1.820 MW e entrou em operação no fim de 2015, custou R$ 3,9 bilhões. Com o custo total de Angra 3, portanto, seria possível construir seis hidrelétricas de Teles Pires, com uma geração total de 10.920 MW.

O MME e a Eletronuclear, responsável pela usina, não quiseram se manifestar sobre o assunto. Na quinta-feira, o drama de Angra 3 – que nos últimos anos andou frequentando muito mais as páginas policiais, pelas denúncias de esquemas de corrupção nas obras – deve ser debatido em reunião do Conselho Nacional de Política Energética (CNPE), em Brasília.

Parceria. Hoje, a geração nuclear é um monopólio federal, com a Eletronuclear à frente das duas únicas usinas em operação no País, Angra 1 e Angra 2, que têm capacidade total de 1.990 MW. O plano é abrir as portas do setor para empresas de fora. A Eletronuclear tem mantido conversas com várias empresas, como CNNC e SNPTC (chinesas), EDF (francesa), Kepco (coreana) e Rosatom (russa). É consenso de que não há meios de avançar nas obras sem a participação de um parceiro privado.

A situação financeira da Eletronuclear fala por si. Mesmo com as operações de Angra 1 e 2 em pleno funcionamento, a estatal fechou o ano com prejuízo líquido de R$ 4,075 bilhões. Somado aos anos anteriores, o prejuízo acumulado chegou a R$ 10,952 bilhões. No horizonte, o que se vê são mais contas para pagar. A Eletronuclear precisa quitar nos próximos anos outros R$ 7,718 bilhões em empréstimos tomados com a Caixa e o BNDES.

Para dar manutenção constante nas máquinas de geração nuclear de Angra 3, a Eletronuclear já gastou mais de R$ 1 bilhão. Estudos realizados pela consultoria Deloitte apontam que ainda serão necessários pelo menos 55 meses de trabalho para concluir a usina, a partir do momento em que suas obras forem retomadas. No papel, a Eletronuclear trabalha com a hipótese de retomar as obras em junho de 2018, para concluí-la em dezembro de 2022.

A conclusão da usina pode ser importante para a Eletronuclear, mas não tem papel crucial no abastecimento energético do País. Na realidade, o que se tem hoje é um cenário com certa sobra de energia, por conta da queda na atividade econômica. A geração nuclear atual responde por apenas 1,3% da geração nacional.

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