Revisão de cálculo pode reduzir preço de energia – Valor

Análise do ILUMINA: A notícia parece ser eminentemente técnica e inócua para os consumidores brasileiros. Ledo engano.

Esse problema “vem à tona” porque há um defeito de origem no modelo brasileiro (já mostrado pelo ILUMINA diversas vezes – por exemplo, em https://www.youtube.com/watch?v=yQw2sZ4fhwo&feature=youtu.be).

No Brasil, usinas não vendem sua geração, vendem um “certificado de energia” que, como todo valor calculado por métodos subjetivos, pode estar errado.

No Brasil, o preço de mercado não é um preço de mercado! É um preço de diferenças entre o real e o certificado e, pior, é calculado por uma instituição que não participa do mercado, o ONS.

Quase imperceptível, como sempre, o fato de que o mercado do qual o consumidor cativo não participa, afeta as suas contas através das bandeiras tarifárias.

Enfim, um pomar de jabuticabas. No gráfico uma comparação de preços de um mercado autêntico o NORDPOOL (países nórdicos) e um mercado anormal (Brasil)


 

Por Rodrigo Polito e Camila Maia | Do Rio e São Paulo

Os preços de energia elétrica no mercado de curto prazo deverão sofrer uma redução de R$ 30 por megawatt­hora (MWh) ­ cerca de 7% do praticado hoje ­ nos próximos meses. A queda, diferentemente do que se possa imaginar, não se deve a uma melhora do regime de chuvas ou dos níveis de armazenamento dos reservatórios hidrelétricos, mas à revisão de uma inconsistência de dados encontrada no planejamento da operação do sistema elétrico do país. Dependendo do entendimento que a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) tiver sobre o tema, há a possibilidade ainda de republicação dos preços à vista de energia de abril e maio, com a redução.

O problema veio à tona durante reunião sobre o programa de operação do sistema do mês de maio, realizada na última semana pelo Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) com empresas do setor. Também na última semana, o operador e a Aneel trocaram correspondência sobre o tema, às quais o Valor teve acesso.

O ONS identificou que dados relativos a oito usinas (seis térmicas e duas eólicas) estavam incoerentes no cálculo da previsão de geração e carga do sistema, que baliza a formação do custo marginal de operação (CMO) e o preço de liquidação das diferenças (PLD), que forma o preço spot de energia.

O problema, de caráter técnico, apurou o Valor, é que pela característica dessas usinas, o cálculo deveria considerar a geração bruta dessas plantas. Verificou­-se, porém, que estava sendo considerada a geração líquida desses empreendimentos. Esse detalhe resultou em uma “sobra” de 440 megawatts (MW) médios no balanço de oferta e demanda, no planejamento da operação.

Segundo fontes com conhecimento do assunto, cálculos feitos pela Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE) mostraram que o impacto dessa diferença de 440 MW médios seria uma redução da ordem de R$ 30/MWh.

Em carta enviada à Aneel, com cópia à CCEE e ao Ministério de Minas e Energia (MME), em 25 de abril, o ONS informou à autarquia sobre o problema e sugeriu que fossem adotados os dados de geração bruta dessas usinas, ao invés da geração líquida, a partir da programação mensal de operação dos próximos meses, o que refletiria no valor do PLD futuro.

Em resposta ao operador, a autarquia, entretanto, solicitou mais esclarecimentos, a serem apresentados até esta sexta­-feira.

Caso a autarquia julgue que tenha havido um erro na consideração dos dados no planejamento da operação, será necessário republicar o PLD dos dois últimos meses.

O diretor ­geral da Aneel, Romeu Rufino, porém, disse ao Valor, que não há indicação de necessidade de republicação do PLD. “Isso [o problema] de fato foi levantado no PMO [reunião do Programa Mensal de Operação] deste mês, mas não há nada decidido ainda. Aneel e o ONS ainda estão calculando.

Nada aponta na direção de que haja necessidade de republicar”.

Segundo uma fonte com conhecimento do assunto, considerando a previsão de redução de R$ 30/ MWh, uma eventual republicação do PLD para abril e maio tem potencial para modificar a cor da bandeira tarifária desses dois meses, de vermelha para amarela. Na prática, a mudança demandaria uma compensação aos consumidores, que teriam pago uma taxa adicional nas tarifas superior a necessária. A bandeira amarela indica custo adicional de R$ 2 a cada 100 quilowatts­hora (kWh) consumidos, enquanto o primeiro patamar da bandeira vermelha indica um custo de R$ 3 por 100 kWh.

Caso o PLD tenha que ser republicado, essa será a segunda vez em menos de um ano. Em dezembro, a CCEE republicou o PLD de novembro e das primeiras três semanas de dezembro, devido a uma revisão do processo de revisão de carga do ONS, que encontrou inconsistências nas informações prestadas por agentes. Os preços sofreram redução de até R$ 60/MWh.

Um problema da republicação é que térmicas mais caras, que não deveriam ter sido acionadas, já geraram a energia, e precisam ser remuneradas.

“Ao você republicar o preço, você não cancela o despacho [acionamento] das usinas. Elas já foram chamadas e já foram despachadas. O que pode acontecer é que a energia que foi remunerada pelo PLD passe a ser remunerada pelo encargo de serviço do sistema [ESS]”, disse Raphael Gomes, advogado especializado em energia do Demarest Advogados.

Para o presidente da Abraceel, Reginaldo Medeiros, o caso expõe a necessidade de se discutir as regras sobre a republicação do PLD. “No último episódio [de republicação do PLD], em dezembro, a Aneel se comprometeu a fazer uma audiência pública para discutir o tema”, afirmou.

Segundo ele, a republicação do PLD cria uma grande insegurança no mercado. “Hoje [ontem] ninguém comprou e vendeu energia. Todo mundo ficou discutindo se vai ter, ou não, republicação”. Medeiros é contra republicação de PLD em caso de erro. “Imagina se o câmbio de um determinado dia fosse redefinido três semanas depois?”, ponderou ele.

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