São Paulo enterrará 52 km de fios em 117 ruas; 2 mil postes desaparecerão – Estadão

Análise do ILUMINA: Basta dar uma olhada nas duas fotos abaixo:

Postes de empresas distribuidoras privadas “alugando” para empresas de telecomunicações privadas no Brasil às custas de insegurança, desordem, altos custos de manutenção e riscos para as equipes. Essa foto é a da reportagem do Estadão.

Postes de empresa estatal (EDF) que trata as redes de energia e telecomunicações sob o ponto de vista coletivo, entendendo o seu aspecto complementar, estético, seguro e de menores custos finais.

Ao contrário do que parece, nosso comentário não está focando a questão privado x estatal. O que está evidente é a falta de planejamento, fiscalização e interesse coletivo. A grande pergunta que precisamos fazer é:

NÓS SABEMOS PRIVATIZAR SERVIÇOS PÚBLICOS??


 

Fabio Leite e Felipe Resk, Impresso

14 Agosto 2017 | 03h00

Após anos de impasse entre a Prefeitura de São Paulo e a Eletropaulo, a gestão do prefeito João Doria (PSDB) fechou um acordo no qual a concessionária de energia elétrica e as empresas de telecomunicação ficarão encarregadas de enterrar 52 quilômetros de fios de transmissão que cruzam o céu da cidade e remover 2.019 postes das calçadas da capital paulista.

Em sua primeira fase, o novo plano de enterramento de fios de São Paulo, batizado por Doria de Cidade Linda Redes Aéreas, vai limpar 117 ruas de sete distritos paulistanos da região central: Consolação, Bela Vista, República, Santa Cecília, Jardim Paulista, Bom Retiro e Brás. Na maioria das vias, a Eletropaulo já enterrou sua fiação, mas restaram os cabos de telefonia, TV e internet e os postes. A previsão é concluir esse trecho até julho do ano que vem.

O cronograma de execução da rede subterrânea envolve 12 conjuntos de ruas, começando pela Rua José Paulino, no Bom Retiro, e terminando na Alameda Santos, no Jardim Paulista. Os dutos com os cabos de telecomunicações e de empresas municipais, como da Companhia de Engenharia de Tráfego (CET), ficarão na mesma galeria já usada pela rede elétrica.

As empresas de telefonia e internet, que hoje pagam aluguel para usar os postes da Eletropaulo, vão bancar as obras de enterramento. O custo total ainda está sendo calculado. Já a concessionária de energia deve gastar R$ 6 milhões para retirar os postes e reparar as calçadas. Segundo a gestão Doria, não haverá custos para a Prefeitura.

“Esse é o primeiro passo de uma maratona. Conseguimos superar os problemas que haviam e, por meio do diálogo, conseguimos encontrar viabilidade técnica e econômica para esse projeto, que vai mudar a cara da região e auxiliar na requalificação do centro”, disse Marcos Penido, secretário municipal de Serviços e Obras.

A meta estipulada pela gestão Doria é enterrar 100 km de fios por ano na cidade. A medida, uma das promessas de campanha do tucano, envolve uma longa batalha administrativa e jurídica entre a Prefeitura e a Eletropaulo. A concessionária de energia é responsável por 44 mil km de fios em sua área de concessão na Grande São Paulo, dos quais só 3 mil km são subterrâneos, e 1,2 milhão de postes.

Vai e vem. Em 2005, o então prefeito José Serra (PSDB) sancionou uma lei obrigando as concessionárias a enterrarem todos os cabos da cidade. Dez anos depois, o ex-prefeito Fernando Haddad (PT) publicou uma portaria exigindo que 250 km de fios fossem retirados dos postes a cada ano, medida que foi suspensa por uma liminar da Justiça a pedido do sindicato das empresas do setor. Segundo a Eletropaulo, a meta custaria R$ 100 bilhões e levaria 33 anos para ser cumprida, com impacto na conta de luz dos clientes.

Agora, segundo o presidente da Associação Brasileira das Prestadoras de Serviços de Telecomunicações Competitivas (Telcomp), João Moura, o trabalho será “gradativo” e o cronograma das próximas fases, negociado com a Prefeitura. Ele disse que as empresas devem incluir na primeira etapa um trecho de quase 7 km na Vila Olímpia, centro comercial e empresarial da zona sul.

“Esses 59 km são o ponto de partida. Essas ruas vão ficar como já é hoje na [AVENIDA]Faria Lima e no Largo da Batata, onde fizemos todo enterramento em 2012, ou ao redor do estádio do Corinthians, onde as obras viárias já foram feitas com o cabeamento subterrâneo”, disse.

Em uma das ruas da primeira fase do programa, a Ribeiro Lima, no Bom Retiro, o emaranhado de fios dá na vista. “Recentemente pipocou tudo, ficamos um dia e meio sem luz. Até fizeram a manutenção, mas os fios ficaram assim”, diz Adriana Almeida, de 47 anos, proprietária de um café, apontando para o poste. Sem energia, o estabelecimento manteve as portas fechadas. O prejuízo calculado por ela, entre vendas que deixaram de ser feitas e salgados que acabaram indo para o lixo, foi de R$ 2,5 mil.

Adriana vê a proposta com ponderação. Para ela, o enterramento deve ser bem estudado pela Prefeitura antes da sua implantação, para evitar que surjam outros problemas. “Aqui na frente há um buraco que sempre abre quando chove, já ficou do tamanho de uma cratera. A Prefeitura fecha, o buraco abre”, exemplifica. “É preciso resolver a estrutura da rua antes. Já pensou se abrem tudo e não conseguem fechar?”

Varal de sapatos. Não raro, pedestres param na Rua São Domingos, na Bela Vista, no centro, para fotografar um fio com mais de 30 pares de sapato pendurados. “Uma hora isso vai ceder ou dar um curto. É um perigo”, reclama a cabeleireira Marinalva Santos, de 45 anos, dona de um salão na rua.

Segundo Marinalva, é comum andar por ali em meio a fios caídos, muitos deles após casos de furtos de cobre. “Você nunca sabe se é de alta tensão ou se não oferece risco. Fica todo mundo com medo”, diz a cabeleireira, que aprova o enterramento previsto para a rua. “Hoje é feio, perigoso e atrapalha árvore de crescer.”

“A ideia é fantástica”, concorda Valdir Damaceno, de 54 anos, dono de um bar na São Domingos. No início do ano, conta, um caminhão passou pela rua e, alto demais, saiu arrastando os fios com ele. Foram três dias para consertar. “É bom que, embaixo do chão, evita futuros problemas.”

Fora da primeira etapa do projeto, a Rua Albion, na Lapa, zona oeste, está em uma região castigada na época de chuva – em outubro de 2016, um homem de 23 anos morreu eletrocutado durante um temporal que atingiu São Paulo, derrubou árvores e arrebentou a fiação. “Aqui, estoura transformador direto”, afirma Sidney Rocha, de 61 anos, funcionário de um estacionamento. “Quando chove, dá medo porque as árvores caem e podem sair derrubando tudo e pegar na gente.”

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