Mitologia VI: Os custos de Operação e Manutenção das usinas antigas é irrisório e pode ser calculado simplificadamente.

Diversos absurdos estão contidos na metodologia que foi a adotada pela ANEEL para, através de fixação de valores irrisórios de O&M, tentar reduzir a tarifa brasileira.

  1. Se tal mito fosse verdade, os custos de uma usina de 2.100 MW com 3 máquinas de 700 MW seria exatamente o mesmo de uma outra usina com 7 unidades de 300 MW.
  2. A Agência reguladora, provavelmente com instruções do governo, emitiu a Nota Técnica no 385/2012-SER/SRG/ANEEL, com esse objetivo. A fórmula, retirada do referido documento, mostra erros de nomenclatura graves, como, por exemplo, confundir fator de capacidade com fator de potência, como pode ser visto abaixo.

  1. O fator de potência mede a fase entre corrente e tensão e nada tem a ver com a energia gerada. Apesar do erro infantil, o texto se refere a Fator de Capacidade que, esse sim, é a razão entre a geração efetiva e a geração máxima teórica de uma usina (Capacidade Instalada x número de horas do ano).
  2. Mesmo se a fórmula estivesse correta, há outro erro conceitual grave. A ANEEL estima a geração através da garantia física (GF) da usina, que é um cálculo de escritório que não corresponde a energia gerada. Na realidade, no sistema brasileiro, as hidráulicas devem gerar mais do que sua GFs porque estão gerando energia no lugar de térmicas na maioria do tempo. Portanto, calcular a geração através da GF é uma subestimativa da realidade.
  3. Não há duas usinas hidroelétricas iguais, nem que elas tenham a mesma capacidade instalada e a mesma GF. Essas usinas não são como térmicas e eólicas, meras fábricas de kWh. Tratar o problema desse jeito significa desacoplar a usina do seu reservatório e do seu ambiente sócio econômico, pois nenhum custo relacionado a esse mundo pode ser incluído no O&M adotado pela ANEEL.
  4. Vista sob essa ótica, a usina é apenas um apêndice dentro da empresa, pois sua receita não participa de nenhuma outra atividade da mesma. Por exemplo, a usina de Furnas, atingida pela MP579, não gera um único centavo para pagar o salário do presidente da empresa.
  5. Os custos estimados para as usinas antigas são irrisórios quando comparados à documentos internacionais como o abaixo. Na tabela pode-se ver que a estimativa para usinas NOVAS atinge US$ 10/MWh, mais do que o triplo das adotadas para a maioria das usinas da Eletrobras. Além disso, os Estados Unidos não impõem esses custos. São apenas estimativas.
  6. Empresas concessionárias não deixam de investir em seus ativos, tendo motivações de mercado e regulamentares para assim agirem.

Fonte: US Energy Information Administration : Levelized costs of new generation resources in the Annual Energy Outlook 2012

Essa situação provavelmente causará muita burocracia e atrasos nas modernizações do sistema, tão necessários. A concessionária, nessas usinas e linhas, deixa de ser a representante do poder público para ser apenas uma empreiteira de O&M, cuidando de um ativo que não é mais seu, mas da União.

Para consultar outros números da série, visite:

http://ilumina.org.br/mitologia-do-setor-eletrico-brasileiro-serie-do-ilumina/

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