Empresas não conseguem pagar a conta de luz e param de produzir – Estado de São Paulo

Comentário: Sem conhecer as singularidades do setor elétrico brasileiro e sem saber detalhes da adaptação feita para nos assemelharmos às situações de outros países, o leitor da reportagem pode imaginar que o que está relatado é comum em mercados de energia. Não é.

É fácil mostrar que estamos sob uma deformidade do que vem a ser um mercado genuíno de energia. Podemos começar mostrando os dois gráficos abaixo que mostram a comparação dos nossos níveis de preço com dois grandes mercados de energia no mundo.

O NORDPOOL (Suécia, Noruega, Finlândia, Dinamarca) (o nosso é o VERDE)

PJM (Delaware, DC, Maryland, New Jersey, Ohio, Pennsylvania, Virginia and West Virginia, Indiana, Illinois, Kentucky, Michigan, North Carolina and Tennessee) (0 nosso é o vermelho)

Como se pode perceber, ao contrário dos exemplos mostrados, onde o preço oscila em torno de uma média, o brasileiro (PLD) vai de quase zero a US$ 400/MWh ou Eu $ 250/MWh, alcançando o triplo de valores máximos alcançados nesses exemplos.

Por incrível que possa parecer, esses extremos exagerados estão profundamente conectados. É justamente por ter situações onde 1 MWh “vale” menos do que R$20 que enfrentamos o oposto, R$ 822 (mais de 40 vezes o valor mínimo).

Os gráficos seguintes mostram o comportamento do “mercado” quando a hidrologia é favorável. Observem o padrão de contratos do ano 2011, onde a hidrologia ficou 120% da média de longo termo. Quando o PLD se reduz quase a zero (eixo horizontal), de 25% a 30% dos contratos viram mensais. A quantidade de energia negociada mês a mês também atinge essa proporção. Ou seja, o esdrúxulo PLD induz um comportamento especulativo por parte dos agentes.

Número de contratos.

Quantidade de energia

É indiscutível que essas empresas necessitam energia barata, pois seus produtos, para serem competitivos, não podem pagar muito mais do que seus concorrentes. O que o ILUMINA contesta é:

  • Que preços MUITO MENORES do que os razoáveis sejam obtidos de um sistema que não é um mercado genuíno, pois os PLDs NÃO SÃO DEFINIDOS POR OFERTA E DEMANDA.
  • Se a política de governo quer beneficiar esses setores, QUE SEJAM DEFINIDOS SUBSÍDIOS ESPECÍFICOS para essa prática.

É preciso entender que toda vez que o mercado de energia brasileiro, bizarro por natureza, permite que alguém “compre” energia por R$12/MWh, joga-se fora a oportunidade de guardar alguns reais para enfrentar a situação oposta. Ninguém faliria se o valor fosse R$ 60, por exemplo. Além disso é preciso compreender que esse MWh a R$ 20 não tem paralelo no mundo.

O mais inacreditável é que essa anomalia é óbvia para quem conhece a formação de preços no Brasil, já foi mostrada inúmeras vezes pelo ILUMINA e, apesar disso, estamos convivendo há 12 anos com essa absurda situação formadora de dívidas bilionárias e desestimuladoras da produção.


 

RENEE PEREIRA

O elevado preço da eletricidade no mercado à vista, por causa do baixo nível dos reservatórios, tem criado uma série de distorções no setor elétrico e na economia. Para algumas empresas, que tinham contrato de suprimento de eletricidade direto com as geradoras, ficou mais lucrativo deixar de produzir, importar o produto e vender a energia no mercado à vista. Por outro lado, há companhias que não aguentaram o custo alto da conta, ficaram inadimplentes e tiveram a energia cortada.

Numa situação normal, com reservatórios cheios e chuvas na média, o preço do mercado à vista, também chamado de PLD, pode ficar meses abaixo dos R$ 100 o MWh. Em janeiro de 2012, por exemplo, estava em R$ 12. Mas quando há um stress no clima e o volume de chuva fica abaixo do esperado, o preço explode. Em quase todo o primeiro semestre deste ano, o PLD, ficou em R$ 822 o MWh, o limite máximo estabelecido. Nas últimas semanas, o preço recuou um pouco – para entre R$ 356 e R$ 547 -, mas continua em patamar alto.

Com esse preço, empresas que tinham energia comprada em contratos de longo prazo, por menos de R$ 100, fecharam as portas e embolsaram o valor do PLD, vendendo a energia no mercado à vista. No primeiro semestre, por exemplo, a diferença foi de R$ 722 por MWh. Segundo fontes, várias unidades do setor de ferro-ligas preferiram reduzir a produção e receber pela energia não consumida.

No setor de alumínio, a história foi diferente, mas com resultado semelhante. Com os altos custos do País e o enorme estoque mundial, as empresas fecharam linhas de produção e reduziram o volume fabricado.

Para abastecer o mercado interno, que continua em alta, o setor teve de importar alumínio. Segundo dados do Ministério do Desenvolvimento, de janeiro a maio, as importações de alumínio bruto cresceram 888% em relação a igual período de 2013. O mesmo ocorreu com ligas de alumínio, com avanço de 193%.

Nesse mesmo período, a produção caiu 16,1%. “Desde 2010, estamos avisando que o preço da energia está muito alto para produzir no Brasil”, diz o presidente da Associação Brasileira do Alumínio (Abal), Adjarma Azevedo. Dos 28% de queda na conta de luz, promovida pela MP 579, que renovou as concessões de geração e transmissão de eletricidade, a indústria de alumínio só conseguiu 5,6%. Consequentemente, ao reduzir a produção, sobrou energia para essas empresas, que lucraram com o preço alto.

O PLD também baliza o preço da energia negociada nos contratos bilaterais de longo prazo. Hoje, quem quiser comprar energia por um ano a partir de 2015 terá de pagar mais de R$ 300 o MWh. O problema é que muitas empresas tinham contratos de dez anos, por exemplo, vencendo este ano, com custo de R$ 60 o MWh.

Com a explosão dos preços, elas ficaram sem contratos e sem condição de pagar a nova conta de luz com base no PLD. Até este mês, oito empresas foram desligadas da Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE) este ano por descumprimento de obrigações. Em 2013, foram 19. Há ainda aquelas que continuam no mercado por decisão judicial, como é o caso da indústria têxtil.

PARA ENTENDER

CCEE funciona como bolsa.

A Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE) viabiliza a compra e venda de eletricidade no mercado de energia brasileiro. A CCEE faz a contabilização e a liquidação financeira das operações no mercado de curto prazo. As regras e os procedimentos de comercialização na CCEE são aprovados pela Aneel.

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